Baudelaire disse em algum lugar que “...existem certas sensações deliciosas cuja vagueza não exclui a intensidade...”
Isso se parece com uma sensação efêmera, que de quando em vez, como se fosse uma alegria inusitada e enigmática, me visita.
Não sei onde ela mora, nem para onde vai quando me deixa. Surge assim, como uma saudade fugaz, e quando tento perscrutá-la, ela se esvai.
Seria esta sensação aquela “alegria perdida” de que falou Kerouac? Acredito que não, pois ele também disse que tal alegria somente poderia ser reproduzida “...no momento da morte.”
Gosto de pensar que este contentamento súbito e inadvertido tenha alguma coisa a ver com a magia de Peter, o Pan. Sim, o mesmo Peter Pan que nos disse uma vez, quando éramos meninos, que para voar bastaria que tivéssemos “pensamentos felizes” – e qual de nós, nem que tenha sido por um átimo apenas, não hesitou em acreditar?
Suspeito mesmo de que ela seja um fragmento imemorial daquela magia etérea, que só os meninos conhecem, mas que depois acabam por esquecer, quando descobrem a cobiça, a malícia, as decepções e as ideologias.
Mas no que consiste então essa visitante peregrina? Dela posso dizer apenas que, não obstante a sua vagueza e fluidez, quando aparece, sua claridade é como a do sol de primavera nas asas de uma borboleta.
Nessas ocasiões meu coração trôpego, enrijecido pela longa noite de inverno, se asserena e todos os aposentos se iluminam com essa felicidade inesperada, extemporânea e cálida.
Recalcitramos em aceitar que o caminho para o "conhece-te a ti mesmo" é sempre solitário e que nesse périplo as fantasias, inevitavelmente, vão ficando pelo caminho.
Mas às vezes, quando essa alegria indizível e sem razão aparente me visita, bate uma vontade incontida de dizer baixinho: “Eu acredito em fadas! Acredito! Acredito!”
Lembrança? Saudade? Não sei. As duas são meninas que nos envolvem numa dança mágica.
ResponderExcluirEntão voaste, amigo?!
e coisa boa é ter asas
e coisa boa é acreditar!
Abç