sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gravuras de Machu Picchu


À sombra da Montanha Feliz eu sussurrei um pedido,
A brisa o carregou com ela e o espalhou por todo o vale.
Depois retornei à trilha, e enquanto caminhava, ia traçando desenhos imaginários;
Lembrei da felicidade e olhei o vazio,
De alguma forma eu sempre estivera ali, e você comigo.
Eu ainda trazia os olhos repletos de estrelas da noite que se fora,
Quando o Sol, como um velho e conhecido poeta, mostrou-me a sua face mais esplendorosa.

Como esquecer, afinal?

Todos os fragmentos estão ali, escondidos em monóculos obsoletos,
E em janelas entristecidas com suas cortinas estranhas e amarelecidas.
Naquela noite longínqua, o sol jamais viu as flores que desabrocharam,
Salpicaste as estrelas com poesias coloridas e ninguém mais, além de mim, soube de ti naquela noite;
Como esquecer os teus olhos grandes e aquela mochila vermelha, onde guardavas uns sonhos e lembranças ensolaradas?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Disparates urbanos

Era um quase poema,

Ou, de outro modo, uma nuança de poema.

Tinha uns mistérios de coisas não ditas

E sugeria outras, também insondáveis.

Por ser um quase poema,

Se permitia certas liberdades, como aquelas,

De rimar amor com amora,

Sim, amora, aquela frutinha delicada e deliciosa,

Com a qual, recentemente, reatei antigos laços de afeto.

Por outro lado, por ser um quase poema,

Flanava acima das regras, inclusive as da física.

O vi singelamente pousado na face cinza de um muro de Porto Alegre.

Outono urbano de irremediável melancolia aquele.

Outono urbano de irremediável melancolia aquele

domingo, 12 de junho de 2011

Lanternas Japonesas

Ao longe, as luzes da pequena cidade hesitavam sob a escuridão profunda da noite imensa;

Um cão zelava pela imobilidade das coisas, e seu latido solitário só era ouvido quando a brisa noturna sussurrava às folhas;

No lugar onde eu me encontrava agora, as lanternas japonesas do último verão eram apenas uma lembrança feliz;

Eu queria acreditar que naquela pequena cidade adormecida, dois amantes permaneciam em vigília,

E que tu não precisarias estar só, e que eu não precisaria esperar pelo retorno do verão e das lanternas japonesas

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sussurros

Estes sentimentos que subjazem,

Sugerem coisas das quais não posso falar,

Ou talvez, das quais não saiba falar mais;


Talvez porque estejam em um idioma esquecido,

Cujos signos já não signifiquem mais nada hoje em dia,

Ou signifiquem coisas diferentes das que costumavam significar.


Não sei... Ou sei muito pouco.

A vida tem suas próprias sendas e suas próprias falas,

E gosto que seja assim, mas sempre há estes sentimentos que subjazem.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Caixinha de Música

Clair de Lune, Debussy e a bailarina,

Tão linda e indiferente,

Bailando só, em seu pequeno universo;

Não que o meu mundo fosse pequeno, era maior do que é agora,

O estranhamento, as tempestades, os espelhos d’água;

Mas a bailarina em seu pequeno universo,

Bailando só, sob Clair de Lune, Debussy,

Era o universo só meu.


Carlos Augusto Machado.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

As Manhãs do Menino Deus

Quando dobrei a esquina, o sol esperava por mim;

Ele me disse bom dia e eu o agradeci com um sorriso.

Mais adiante, quando cheguei à praça, flores me esperavam;

Elas me acenaram e eu as retribui com um gassho.

O Bem-te-vi cantou quando passei, e então assoviei para ele “Morning has broken”.

E enquanto eu seguia em meio ao concreto, o abstrato subvertia a ordem, as cores, o canto e a poesia.

O Porto era tão Alegre nas manhãs do Menino Deus!

Carlos Augusto Machado.