domingo, 12 de junho de 2011

Lanternas Japonesas

Ao longe, as luzes da pequena cidade hesitavam sob a escuridão profunda da noite imensa;

Um cão zelava pela imobilidade das coisas, e seu latido solitário só era ouvido quando a brisa noturna sussurrava às folhas;

No lugar onde eu me encontrava agora, as lanternas japonesas do último verão eram apenas uma lembrança feliz;

Eu queria acreditar que naquela pequena cidade adormecida, dois amantes permaneciam em vigília,

E que tu não precisarias estar só, e que eu não precisaria esperar pelo retorno do verão e das lanternas japonesas

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sussurros

Estes sentimentos que subjazem,

Sugerem coisas das quais não posso falar,

Ou talvez, das quais não saiba falar mais;


Talvez porque estejam em um idioma esquecido,

Cujos signos já não signifiquem mais nada hoje em dia,

Ou signifiquem coisas diferentes das que costumavam significar.


Não sei... Ou sei muito pouco.

A vida tem suas próprias sendas e suas próprias falas,

E gosto que seja assim, mas sempre há estes sentimentos que subjazem.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Caixinha de Música

Clair de Lune, Debussy e a bailarina,

Tão linda e indiferente,

Bailando só, em seu pequeno universo;

Não que o meu mundo fosse pequeno, era maior do que é agora,

O estranhamento, as tempestades, os espelhos d’água;

Mas a bailarina em seu pequeno universo,

Bailando só, sob Clair de Lune, Debussy,

Era o universo só meu.


Carlos Augusto Machado.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

As Manhãs do Menino Deus

Quando dobrei a esquina, o sol esperava por mim;

Ele me disse bom dia e eu o agradeci com um sorriso.

Mais adiante, quando cheguei à praça, flores me esperavam;

Elas me acenaram e eu as retribui com um gassho.

O Bem-te-vi cantou quando passei, e então assoviei para ele “Morning has broken”.

E enquanto eu seguia em meio ao concreto, o abstrato subvertia a ordem, as cores, o canto e a poesia.

O Porto era tão Alegre nas manhãs do Menino Deus!

Carlos Augusto Machado.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Eu acredito em fadas! Acredito! Acredito!"


Baudelaire disse em algum lugar que “...existem certas sensações deliciosas cuja vagueza não exclui a intensidade...”
Isso se parece com uma sensação efêmera, que de quando em vez, como se fosse uma alegria inusitada e enigmática, me visita.
Não sei onde ela mora, nem para onde vai quando me deixa. Surge assim, como uma saudade fugaz, e quando tento perscrutá-la, ela se esvai.
Seria esta sensação aquela “alegria perdida” de que falou Kerouac? Acredito que não, pois ele também disse que tal alegria somente poderia ser reproduzida “...no momento da morte.”
Gosto de pensar que este contentamento súbito e inadvertido tenha alguma coisa a ver com a magia de Peter, o Pan. Sim, o mesmo Peter Pan que nos disse uma vez, quando éramos meninos, que para voar bastaria que tivéssemos “pensamentos felizes” – e qual de nós, nem que tenha sido por um átimo apenas, não hesitou em acreditar?
Suspeito mesmo de que ela seja um fragmento imemorial daquela magia etérea, que só os meninos conhecem, mas que depois acabam por esquecer, quando descobrem a cobiça, a malícia, as decepções e as ideologias.
Mas no que consiste então essa visitante peregrina? Dela posso dizer apenas que, não obstante a sua vagueza e fluidez, quando aparece, sua claridade é como a do sol de primavera nas asas de uma borboleta.
Nessas ocasiões meu coração trôpego, enrijecido pela longa noite de inverno, se asserena e todos os aposentos se iluminam com essa felicidade inesperada, extemporânea e cálida.
Recalcitramos em aceitar que o caminho para o "conhece-te a ti mesmo" é sempre solitário e que nesse périplo as fantasias, inevitavelmente, vão ficando pelo caminho. 
Mas às vezes, quando essa alegria indizível e sem razão aparente me visita, bate uma vontade incontida de dizer baixinho: “Eu acredito em fadas! Acredito! Acredito!”