Não quero lembrar do ano passado. Não gosto de pensar sobre ele, o ano passado. O ano passado poderia ser engolido por alguma espécie de dobra do espaço-tempo, e para mim não faria a menor diferença. Mas de qualquer modo, tanto faz; eu já nem me importo mesmo com seja-lá-o-que-tenha-acontecido-no-ano-passado. Essa manhã, contudo, logo depois de acordar, fui até a janela e antes de abri-la me detive por alguns instantes. Algo pareceu-me novo. Um não-sei-o-quê de indistinguível, de sol, talvez, ou talvez por dentro, não sei. Num canto da calçada, ali na frente, um ramo verde se contorcia para vencer a fenda no concreto. "A cidade um dia já fora mais gentil", pensei, "quando ela ainda não sabia bem o que era ser uma cidade".
Apenas por um dia é a natureza daquilo que é efêmero, transitório, impermanente, mas nem por isso menos belo, singular ou desprovido de importância. Sempre haverá uma perspectiva, um fragmento encoberto, que faz com que algo qualquer envolva alguma qualidade incomum, ainda que ambígua, mas por isso mesmo, rara.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
Hibernação
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