- Jamais! Isso nunca! De jeito nenhum! Não, mesmo! Você enlouqueceu por acaso?!
- Lena, veja bem, eu não pedi pra fazer sexo anal contigo. Eu perguntei se você queria casar comigo; só isso!
- Fabrício, eu não quero ser rude, mas acho que essa foi a coisa mais estúpida que eu ouvi você dizer nesse tempo todo que estamos juntos, e olha que a gente já falou muita besteira! Como assim, "quer casar comigo?" Fabrício, a gente se conhece o que, há dois meses? Três, no máximo!
- Lena, eu não te entendo. Você tem uma cabeça completamente descolada, nada convencional, não está nem aí pra quase nada, e me vem com coisas como, ah, a gente se conhece há dois meses e blá blá blá. Como se isso realmente contasse pra alguma coisa e ...
- Olha, amor, vamos lá, deixa eu tentar explicar o meu ponto de vista. Ouve o que você mesmo acabou de dizer: "Você tem uma cabeça completamente descolada, nada convencional". Veja bem, Fabrício, ninguém tem uma cabeça completamente aberta, entendeu? Todo mundo é convencional em algum ponto, em alguma coisa, até os malucos observam alguma convenção em algum lugar, sei lá, em alguma ocasião. E nesse aspecto eu sou convencional: o casamento é uma convenção que eu levo à sério demais pra me envolver com ele, e também porque eu acho que já faliu faz tempo. Por que eu iria querer me envolver com um negócio falido? Mas você tá falando sério?! Mesmo?!
- Sabe, Lena, deixa pra lá! Faça de conta que eu nunca te fiz essa pergunta, tá bom? Mas assim, só pra encerrar esse assunto: eu acreditava, mesmo, de verdade, que havia algo entre a gente, e quando eu falo de algo entre a gente eu quero dizer algo a mais, entende...? Foda-se, eu vou dizer... Eu pensei que a gente se amava, entendeu agora?! Sim, porque eu te amo!
- Mas, amor, o que tem a ver o casamento com o que rola entre nós dois? É, eu acho que te amo também; e não vai ficar chateado por eu dizer que acho que te amo. Olha, você sabe, meu pai é psicanalista e, sei lá, talvez por influência dele, até bem pouco tempo eu nem acreditava nessa coisa de amor, achava que isso nem existia, e se existisse de fato, eu tinha certeza de que não era pra mim. Mas então você apareceu... e me fez duvidar dessas minhas convicções. Mas olha só, de qualquer modo, pra mim, uma coisa é o amor e outra, bem diferente, é o casamento, entende? E isso não vai mudar pra mim.
- Tá bom, Lena, eu não vou mais falar nesse assunto contigo, nunca mais!
- Ah, você ficou chateado!
- Não, não tem problema, eu supero. Me dá licença, eu vou ao banheiro...
Lena e Fabrício se casaram dois meses depois, e foram singularmente felizes nos anos que se seguiram, donde se poderia concluir que amor, casamento, felicidade e convicções são temas que não necessariamente andam juntos e que também não necessariamente possuem qualquer lógica a priori. Ou possuem, sei lá!
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