As raízes expostas depois da tempestade
Nina estacionou seu carro naquela ruazinha simpática e arborizada. Desligou o motor; retirou a chave da ignição; puxou o freio de mão e ficou ali, dentro do carro, olhando o vazio. Apenas um rumor abafado lhe fazia lembrar que a cidade, tal como um bicho excêntrico, se mexia em algum lugar não muito distante de onde estava. Tudo o que lhe acontecera nos últimos meses começou a se projetar, como uma espécie de curta-metragem, de muitos lugares da sua memória. Perdera o emprego, o amor que julgara ser o da sua vida, perdera o apartamento em que morava e junto com tudo isso, também uma boa parte de todos os sonhos que sonhara para si. Enquanto sentia o gosto levemente salgado das lágrimas que lhe chegavam à comissura dos lábios, de súbito, como se fosse um cobertor quente numa noite fria de inverno, um pensamento estranho lhe ocorreu: nunca estivera tão livre, nunca se sentira assim, tão desenraizada! Todos os caminhos lhe eram possíveis, todos os lugares, todas as trilhas lhe eram franqueadas e havia tantos novos sonhos para serem sonhados! Agora já não tinhas posses, e também já não era posse de mais ninguém.
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