quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Quem me dera, agora, quem me dera



O que poderia ser, 
senão apenas um lustre no amanhecer?
Pirita, ouro de tolo!,
outro dia desesperado de sonhos e de poesia.
Outra metáfora vazia, de verbo, de signo, para sempre silente de ti.
E novamente, amada, eu não encontrei nada,
lá, onde imaginei que houvesse.
As flores do cosmos só brotam onde a brisa sopra, em teus cabelos tingidos de noite escura. 
Quem me dera agora, lábios, sonhos, primavera, 
e os teus olhos, ao alcance dos meus.
O pátio da tua casa, sempre a minha espera, 
quem me dera, agora, quem me dera.  

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

ausência, tão somente

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Seguíamos, há muito, em direções opostas.
E eis que, por razões e circunstâncias bastante improváveis, 
nos encontramos ali, no meio do nada.
Silêncio!
Trazias agora uma pequena cicatriz acima da pálpebra direita,
e um silêncio!, perturbado apenas por um riso comedido, quase imperceptível.
Tuas mãos, antes delicadas como as asas dos pombos da Alfândega, 
ríspidas, inquietas, discrepavam do olhar
que parecia ter se recolhido para algum outro lugar, intangível.
Mas havia algo de inefável estilhaçando as gretas.
E então nos quedamos ali.
Estranho descobrir, finalmente, que aquilo que sentíramos por todos aqueles anos não fora apenas frio, enfim, mas sim, e possivelmente, tão somente, ausência.