Aprecio os perdedores. Mas não qualquer tipo de perdedor, não. E sim uma espécime em particular dentre os
perdedores. O perdedor que aprecio é do
tipo que não esconde as marcas das inúmeras derrotas, mas também não as ostenta: ele traz essas cicatrizes na face, nos punhos, pelo corpo, mas, sobretudo, na alma. Ele é aquele
que, quando compelido, entra no campo de batalha, avalia seus contendores, os cumprimenta
cordialmente olhando-os diretamente nos olhos, percebe sua inferioridade ante
eles e, ainda assim, se lança!, mesmo antevendo a derrota. Finda a luta,
arrasta-se até um canto qualquer, lambe suas feridas e, passado algum tempo,
levanta-se! O perdedor que admiro não externa seus lamentos e nem os motivos pelos quais prefere silenciá-los. E quando lembrado sobre seus reveses, sorri, introspectivo, sem ressentimentos. E sim!, ele tem lá as suas vitórias, ás vezes. Não obstante,
as lembranças das inúmeras derrotas o tornou suficientemente humilde para saber
que elas, as vitórias, são circunstanciais e efêmeras. Talvez seja minha
inclinação para o estoicismo, não sei. Talvez decorra da profunda impressão que
me causou, ainda na adolescência, o que Hamlet disse a Horácio, “... pois
sempre foste diante das dores, como quem não sofre, um homem que recebe como
idênticos golpes ou recompensas da fortuna, e igualmente os agradece.” É
possível que um perdedor assim seja apenas minha idealização, uma alegoria romântica.
Mas num mundo com tantos vencedores gosto de imaginar que exista um perdedor assim, e que ele ainda esteja
lá, perdido no campo de batalha, se recompondo após mais uma derrota, enquanto
os vencedores se retiram, sob os holofotes e os aplausos da plateia.
Apenas por um dia é a natureza daquilo que é efêmero, transitório, impermanente, mas nem por isso menos belo, singular ou desprovido de importância. Sempre haverá uma perspectiva, um fragmento encoberto, que faz com que algo qualquer envolva alguma qualidade incomum, ainda que ambígua, mas por isso mesmo, rara.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
Talvez
Talvez haja mesmo essa centelha. Mas acho que, caso ela exista de fato, só poderia fazer algum sentido se, e somente se, em algum momento, além de nos aquecer por dentro, também pudesse serenar a alma de quem recostou a cabeça em nosso peito.
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