sexta-feira, 31 de maio de 2013

Gosto dos perdedores



Aprecio os perdedores. Mas não qualquer tipo de perdedor, não. E sim uma espécime em particular dentre os perdedores.  O perdedor que aprecio é do tipo que não esconde as marcas das inúmeras derrotas, mas também não as ostenta: ele traz essas cicatrizes na face, nos punhos, pelo corpo, mas, sobretudo, na alma. Ele é aquele que, quando compelido, entra no campo de batalha, avalia seus contendores, os cumprimenta cordialmente olhando-os diretamente nos olhos, percebe sua inferioridade ante eles e, ainda assim, se lança!, mesmo antevendo a derrota. Finda a luta, arrasta-se até um canto qualquer, lambe suas feridas e, passado algum tempo, levanta-se! O perdedor que admiro não externa seus lamentos e nem os motivos pelos quais prefere silenciá-los. E quando lembrado sobre seus reveses, sorri, introspectivo, sem ressentimentos. E sim!, ele tem lá as suas vitórias, ás vezes. Não obstante, as lembranças das inúmeras derrotas o tornou suficientemente humilde para saber que elas, as vitórias, são circunstanciais e efêmeras. Talvez seja minha inclinação para o estoicismo, não sei. Talvez decorra da profunda impressão que me causou, ainda na adolescência, o que Hamlet disse a Horácio, “... pois sempre foste diante das dores, como quem não sofre, um homem que recebe como idênticos golpes ou recompensas da fortuna, e igualmente os agradece.” É possível que um perdedor assim seja apenas minha idealização, uma alegoria romântica. Mas num mundo com tantos vencedores gosto de imaginar que exista um perdedor assim, e que ele ainda esteja lá, perdido no campo de batalha, se recompondo após mais uma derrota, enquanto os vencedores se retiram, sob os holofotes e os aplausos da plateia.

Talvez

Talvez haja mesmo essa centelha. Mas acho que, caso ela exista de fato, só poderia fazer algum sentido se, e somente se, em algum momento, além de nos aquecer por dentro, também pudesse serenar a alma de quem recostou a cabeça em nosso peito.