Eu tinha uns seis ou sete anos, e pelo que me lembro, era um final de tarde esplêndido. As árvores esforçavam-se para reter em seus galhos as derradeiras réstias de sol que o horizonte, por sua vez, teimava em resgatar e levar consigo.
Eu e meu pai seguíamos, sem pressa, em meio a transeuntes apressados. De algum lugar, em meio ao burburinho da cidade entardecida, as primeiras notas daquela música chegaram, e estranhamente, pareceu-me parida por aquele mesmo crepúsculo.
Apurei meus ouvidos tentando perscrutá-la. Repentinamente me detive em frente à janela de um velho sobrado de cor amarelo-entristecido.
Enquanto meu pai tentava entender o que havia, minha respiração se conteve, como que por vontade própria. Senti meu coração pulsando de um jeito que nunca sentira antes, afinal, eu era apenas um menino.
E então a melodia, por inteira, escapando por aquela janela encantada:
"...acaricia me ensuño... el suave murmullo... de tu suspirar... como rie la vida... si tus ojos negros... me quieren mirar... y si es mio el amparo... de tu risa leve... que es como un cantar... ella aquieta mi herida... todo, todo se olvida... el dia que me quieras... la rosa que engalana... se vestirá de fiesta... con su mejor color..."
Por anos pensei que aquela fosse a música mais bonita que alguém já fizera, ainda que não tivesse compreendido por inteiro os seus versos, num primeiro momento.
Desde então, sempre que a ouço, a mesma mágica acontece, e volto a ser aquele menino, com seus seis ou sete anos mais ou menos, que gostava dos entardeceres.
Desde então, sempre que a ouço, a mesma mágica acontece, e volto a ser aquele menino, com seus seis ou sete anos mais ou menos, que gostava dos entardeceres.
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